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A Mensagem que vem do Grafite de Rua

  • Nayara Caroline
  • 27 de out. de 2016
  • 5 min de leitura

Foto: Lunartty Michael

Gian Magon se considera um ilustrador e é no momento o único grafiteiro de sua cidade.

A arte é uma expressão social que existe desde os primórdios da humanidade. Ela inclusive pode ser expressada das mais variadas formas, os homens que moravam nas cavernas, manifestavam a vida, o cotidiano e os dilemas, nas paredes dos antros. As pinturas rupestres, podem ser consideradas como os primeiros exemplos de grafite que se tem conhecimento. A arte do grafite do século XX foi implantada na cidade de Nova Iorque, em meados da década de 1970. Os desenhos que vemos hoje estampados nos muros de locais públicos, ou até em ambientes de cunho particular, foram iniciados por moradores da cidade norte americana, que queriam de certa forma deixar uma marca de sua existência. O registro foi se modicando, ganhando formas, técnicas e cores.

Um exemplo de artista do grafite atual pode ser encontrado na cidade de Rolândia. Gian Magon, 21 anos, se considera um ilustrador. Desde criança ele já gostava de desenhar, e percebia que tinha habilidade nesta atividade artística. O primeiro contato dele com o grafite, foi em 2013, quando alguns grafiteiros vieram até o município. Na ocasião o grupo fez desenhos em diversos pontos de ônibus da cidade, que além de expressão de arte, contribuiu na restauração destes ambientes públicos. Magon se interessou pelo grafite e pediu auxílio aos artistas.” Eu nunca tinha ao menos pegado em uma latinha de tinta, tinha receio em começar”. Ele decidiu perder o temor, e colocou em pratica os exercícios de grafite. Se matriculou em um curso de artes visuais e disse para si mesmo que algum dia teria a arte como o “ganha pão.”

Depois da decisão o ilustrador mostrou o talento dele pelos quatro cantos da cidade. É possível encontrar desenhos de Magon em diversos ambientes públicos do município de Rolândia. O artista conta que no começo de seu contato com o grafite, ele não escolhia muito bem os locais, apenas chegava no local e desenhava. Entretanto, com a experiência adquirida no grafite, e por meio de aulas e orientações de professores da faculdade, o artista percebeu que precisava estudar os locais, antes de grafitar. “É preciso pensar na questão de visibilidade, luz, estudar todo o contexto do local, no qual eu pretendo fazer um grafite”.

Entre tantos trabalhos ele se recorda de um, que muito além de arte, traz uma história de vida. O local é um banheiro público, localizado próximo ao estádio de futebol da cidade. Lá o artista havia desenhado um morador de rua, com um cachorro, segurando uma plaquinha com os dizeres “vai melhorar”. O desenho foi inspirado em uma pessoa real, que sempre dormia no espaço, na companhia do cão inseparável. A frase escrita na plaquinha, servia como um incentivo na vida do morador, uma mensagem de esperança. Meses depois, o grafiteiro relatou que recebeu uma notícia triste, o senhor que não tinha casa e morava pelas ruas acompanhado de um cachorro, havia morrido. Depois da notícia, Magon tomou uma atitude. “Fui até o local e refiz o grafite. Desenhei o morador de rua sentado, ao lado do cachorro, em um ambiente que lembrasse o céu. Eu me arrepio só em contar essa história”.

O ilustrador conta que o preconceito infelizmente existe. Tanto com a relação da comparação da pichação com o grafite, quanto ao fato da não valorização do trabalho artístico. “Já ouvi pessoa me falarem: - Ah legal os seus grafites, mas você trabalha com o que?”. Magon conta que existem pessoas que se auto declaram não preconceituosas, mas que por meio de algumas atitudes, elas acabam provando o contrário. Ele ainda acredita que essa ausência de reconhecimento por parte do grafite como um trabalho sério e responsável, pode estar ligado a um pensamento de retorno à infância. “Muitas pessoas consideram a ação de desenhar um exercício de criança, porque as vezes lembra do filho pequeno que também desenha, [...] ou seja, é como se nosso trabalho de grafitar, não passasse apenas de uma brincadeira de criança”.

Apesar de tudo isso, Magon afirma que a visão do grafite no cenário atual está mudando, ele confessa que a pratica está em alta e até mesmo “na moda”. “Uma galera já veio me pedir dicas, e tirar dúvidas, e eu fico feliz em saber que mais pessoas se interessam por esse tipo de arte”. Hoje especificamente em Rolândia, somente o ilustrador faz este tipo de grafite na cidade, por isso, sempre tenta de alguma forma passar para frente o conhecimento adquirido. Até mesmo professoras de escolas de ensino infantil e fundamental, já o procurar para pedir que ele ministrasse palestras, ou até mesmo, algumas oficinas nas instituição. Isso fez com que ele tivesse a ideia para a implantação de um projeto nas escolas, que pretende pôr em pratica, no ano que vem.

O grafiteiro reconhece que atingiu a meta de ter a arte como uma profissão, e viver apenas e somente dela. Ele confessa que atualmente por uma questão financeira, diminuiu os grafites em ambientes públicos, para se dedicar em serviços particulares, e até então, tem dado certo. Entretanto, não é tão fácil como se imagina viver de arte, o ilustrador revela que há muito sacrifício envolvido nisso, além de muita força de vontade. “Conheço muitos amigos que são ótimos grafiteiros, mas que infelizmente não conseguem se sustentar só disso. Precisam ter outro serviço paralelo, e trabalhar muito para conseguir se manter”.

Castro Alves, 1964

O projeto Castro Alves, 1964, foi criado pelo artista como um modo de protesto social e também foi usado por ele, como o Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. O nome é em menção ao endereço de onde foi feito o grafite, localizado próximo a um ginásio de esportes, na área central do município. A obra de arte tem setenta e cinco metros quadrados e foi feita em uma semana. Magon afirma que quis fazer um grafite grande, para não correr o risco de alguém passar, e não conseguir visualizar a mensagem. O artista contou que o homem com corpo de cachorro, é em referência e em comparação aos dois elementos que moram nas ruas. Porém apenas um deles, neste caso o cachorro, é que normalmente leva a sorte de ser adotado, o que raramente acontece com pessoas que vivem nas ruas. Além disso o local escolhido é um ambiente onde se concentram muitos andarilhos. O artista relatou que na época em que estava fazendo o desenho, alguns homens que viviam lá o questionavam e queriam saber do que se tratava aquele grafite, depois de finalizado, Magon conta que um deles foi até ele, e agradeceu pele reconhecimento, em resposta o artista disse “obrigada, não foi nada, é só uma simples homenagem à vocês”.

 
 
 

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